domingo, 20 de novembro de 2011

Um pouco sobre relacionamentos.

Recebi um conselho justamente quando estava começando um namoro que dizia apenas: “não se entregue tanto”. Assim que recebi esse conselho estranhei porque partiu de uma pessoa que tinha um relacionamento duradouro e não podia imaginar como ela não tinha se entregado nessa história que vivia, achei impossível.
Naquele momento não podia saber do que se tratava tal conselho, ainda não podia entender. Engraçado como algumas coisas somos capazes de compreender apenas quando vivemos um pouco mais. E quando adquirimos alguma maturidade percebemos que algumas coisas são mesmo muito certas.
Passados alguns anos percebi que não me entregar completamente significa ter a sabedoria de deixar que as fases de um relacionamento aconteçam no seu tempo, sem que eu precise acelerar ou retardar nada.
Principalmente, não se entregar tanto, significa que abrir mão de você mesmo em algum momento vai fazer com que você se perca no caminho. Caso você se perca será difícil saber em que pedaço da estrada você ficou pra trás.
Entrega, necessariamente, não tem que existir nos relacionamentos. Namoros, casamentos são fundados na busca de um companheiro e não em ter alguém com quem você vai se confundir, vai se dedicar de maneira que não possa se observar às vezes, sempre que sentir que é hora.
É preciso muita vigilância para que você não deixe suas vontades pelos gostos do outro, não que isso seja uma coisa obrigatória, mas pode acontecer pelas pequenas omissões e grandes renuncias. Não quero dizer que relacionamentos não sejam feitos também de renuncias, de paciência e de acolhimento. O amor é uma fórmula que contém tudo isso para que dê certo, mas nada pode ser invasivo e exagerado.
A entrega na medida certa seria a não entrega. Em vez disso que haja o companheirismo. Dessa maneira, você não estará deixando de lado nada que deve fazer parte de um relacionamento como: respeito, lealdade, fidelidade etc. Estará apenas buscando saúde para seu namoro/casamento, pois não é saudável se entregar. Para aqueles que discordam, reafirmo: entrega tem um aspecto muito mais negativo do que positivo e não implica automaticamente em sentimento.
Pois, como aprendi com esse conselho aprenda também: Busque alguém para compartilhar suas escolhas, seus gostos, suas vontades e suas histórias porque viver essa vida sozinho(a) é bem difícil e o amor é o mais nobre sentimento que deve preencher nossa vida.
Se entregue a pessoa certa que é você mesmo. Se fizer essa escolha você estará sempre satisfeito, sempre completo. Você não terá aberto mão das coisas, realmente, importantes e saberá muito bem qual o quilômetro da vida você está nesse momento.

(Valéria Sales)

Conto do primeiro beijo


Lá estava Bianca, sem saber como será reencontrar com ele (“O Carinha”), pois ele percebeu seus olhares.
No dia da festa ele havia ficado com a menina que parecia ser a pessoa mais errada do mundo pra ele. Sabe aquela menina vulgar, chata, insuportável que parece que te persegue de alguma forma? Ela sempre tinha alguma coisa haver com os rapazes que Bianca se interessava. E o pior é (na verdade, o melhor) que estava rolando uma conversa legal entre Bianca e “O Carinha”. Eles já haviam passado da fase apresentação pessoal e estavam naquele estágio de encontrar pontos em comum. Aquele momento em que rola a afirmação: “Que coincidência! Também adoro cães”. No caso do “Carinha”, os cachorros não fazem seu tipo, mas tantas outras coisas faziam e nem tinha importância ela só pensava mesmo em ficar com ele.
No meio da conversa sempre tem alguém que aparece, justamente quando chegou a hora engraçada dos dois conseguirem lembrar o nome de um filme que há quinze minutos estava sendo batizado por milhares de sinônimos. O nome do filme saiu junto com “O Carinha” e seu irmão. A conversa pediu uma pausa e Bianca procurou suas amigas. A companhia das meninas parecia sem graça alguma. O interesse de Bianca estava totalmente concentrado no sorriso desejado.
Mas, festas são festas e os olhares de Bianca percorreram aquele salão como se fosse uma maratona pela busca de alguém. Tentando ser discreta, sem escutar uma só palavra do que as amigas diziam, de tanto observar o cenário e de se perguntar se ele ia voltar.
Como eu tenho a sorte de ser a narradora desse conto posso estar em mais de um lugar ao mesmo tempo e saber por onde anda “O Carinha” e vou contar pra vocês: Bem, o irmão dele o viu no maior papo com uma menina na festa, mas nada que o impedisse de chamá-lo para ajudar um dos amigos que estava passando mal e aí começou uma saga de convencer um bêbado a parar de beber, a ir pra casa e, principalmente, aceitar a carona nem um pouco espontânea.
Enquanto isso... Os olhares de Bianca cansaram da busca e “O Carinha” não chegou a tempo de continuar a conversa. Quando ele voltou não encontrou nenhum olhar, além da paquera de uma menina que mais parecia estar tentando arrematá-lo em um leilão. Justamente, a “tal” vaca insuportável que persegue Bianca (são palavras da própria Bianca, aqui eu apenas narro).
E o boi foi arrematado por doze doses de vodka.
No dia seguinte foi fácil que a noticia do leilão chegasse aos ouvidos de Bianca. A amiga do amigo dele que também é amiga de Bianca veio correndo contar as novidades da noite anterior e ainda tirar sarro de Bianca pelo fato dela na noite anterior parecer uma múmia em uma festa. Ninguém merece esses comentários, nem mesmo você Bia. E agora o ânimo pelo “Carinha” foi por água a baixo, no final das contas o gato que, na verdade, é boi ficou com quem deu o maior lance.
Bia deixou que o interesse pelo “Carinha” virasse o Orkut, ou seja, aquela coisa que você visita uma vez na vida, mas não tem coragem de excluir.
Mas, como nada é totalmente isso ou aquilo, o “Carinha” se interessou mesmo por Bia. Aproveitando a tecnologia começou a acompanhar os detalhes, sobre a boca desejada, pelo facebook. De forma que pareceu coincidência ele aparecer na festa em que Bianca confirmou presença.
Uma festa comum em que o “Carinha” fez todo o possível pra dar uma carona a Bia e ainda subornou o seu amigo semi- alcoólico ( “o problema” da festa passada) à ser uma espécie de publicitário particular.
Tudo estava saindo como o “Carinha” planejou, como Bia não imaginou, até que ela aceitou a carona.
Finalmente, chegaram na porta do prédio de Bianca e ao descer e se despedirem rolou um longo beijo, seguido de um sorriso (que já foi desejado antes). Foi apenas aquele beijo e uma troca tímida de telefones. Ah! Além disso, a pastilha do “Carinha” acabou ficando no bolso de Bia.
No dia seguinte ao chupar a pastilha Bia sentiu aquele beijo novamente. Foi quando o telefone tocou.

( Valéria Sales)