quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Mulher exótica.

Colo,
Saboneteiras, com a poesia que definiu Vinícius de Moraes (assim, há muita importância).
Seios fartos,
Barriga,
Alguma cintura,
Nádegas muito comuns,
Coxas pesadas,
"Canelas" desenhadas a mão para calçarem saltos,
Tornozelos nem um pouco sensuais,
Pés estranhos,
As mãos e seus dedos tortos,
Boca, nariz, testa, olhos, bochechas, orelhas: feitos mesmo para dar muita informação.
Um corpo para dizer muito.
Tamanha desarmonia que parece pensada: " - Põe seios tortos! Um maior que o outro, para que sejam muitas as falhas. Ela não pode parecer feita por um especialista".
São mil os traços que parecem de outros desenhos.
Mistura em panela de barro, no forno a lenha.
E esses cabelos negros? São meus mesmo?
Ah!Essa coisa tão difícil de ser tão óbvia, mas levar muito tempo para descobrir o que combina.
Viva as madeixas pretinhas!
Exótica? Ainda não sei o que quer dizer.
Horrível, feia, estranha, diferente, incompreensível, ausência de beleza, beleza única, personalidade...
Um eterno "se" que, na verdade, fala mais dos outros.
A excentricidade de ser eu mesma, garota montada em quebra-cabeça, na minha específica discrepância, me garantiu alguma graça.
Ou, pelo menos, alguma coerência.

Valéria Sales.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Assovio eterno.

Meu coração palpita aflito.
Minhas mãos gelam.
A frieza que alcança meu coração toma conta das extremidades.
Sou toda medo.
Esqueci que sei escrever.
A caneta muda me sufocou.

Sou tantos erros como um efeito dominó.
Agora, não há positividade.
Não enxergo nada de bom.
Sou apenas o lamento de estar onde estou.

Como suportar?
Como permitir tantas ausências?
Ah! O tempo que ficou para trás!
Esse tempo, ele tem um peso.
O peso que endurece meu corpo.

Carrego-me pesada como um ser desmaiado.
Levo a consequência como um anjo mau.
O vento assovia no 8° andar,
Eu não sei responder.

(Valéria Sales)